domingo, 4 de fevereiro de 2024

Soul Aline Grael

 Quando pensei em voltar a escrever publicamente relembrei o fato de tê-lo deixado de o fazer. A escrita acompanhou-me de forma tão natural em todo o processo da minha construção que penso ser não natural de minha parte permanecer em silêncio. Por um bom tempo eu escrevia a punho sobre meus pensamentos confusos e delirantes. Recordo-me de escrever e logo a seguir me parecer que não se tratava de mim aquela pessoa, era uma pessoa quase abstrata. 

  Entre a escrita e o pensamento existia uma menina que desenhava, que criava e inspirava. Nessa altura entre a escola e o caminho de casa, nas chamadas Lan Houses íamos todos para jogar ou brincar. Fazíamos competições nem sempre nos jogos, mais de nossas habilidades. Como eu desenhava muitas vezes personagens que estavam nos jogos ou na Tv ficava ali meio que inserida no meio dos meninos que competiam, dali criei meio que sem querem o nome que carrego hoje como Brasão: Grael. 

De Aline Graciele passei a ser chamada de Grael por um erro de assinatura. Lembro-me de ter desenho apenas com lápis de carvão 6B um Homem Aranha, em cartolina branca, subindo a parede. Como eu não tinha treinado um rúbrica arrisquei qualquer coisa para parecer profissional e desde então daquela tentativa de parecer adulta e ter uma rubrica de Graciele surgiu um Grael. As pessoas a chamarem-me por Grael e eu nem sequer negava, fui deixando chamarem como quisessem e daí nunca mais consegui mudar isso. O fato é que eu até então nem fazia ideia de que pudesse haver no mundo esse sobrenome Grael, analisei a construção fonética e a composição geral e achei que seria mesmo uma boa ideia manter esse nome artístico. A força do Grael sobrepunha sobre a delicadeza de “Aline”, abre parênteses ( pois era assim que eu via a “Aline”, frágil, delicada e sem forças próprias. Uma pessoa quase sem poder de decisão sobre a própria vida) fecha parênteses. A altivez do Gra- seguido pelo El era quase que uma força motriz sobre uma engrenagem frágil, era como se esse sobrenome convertesse tudo que fosse frágil em matéria sólida e indestrutível. Por trás dessa composição passei a sentir-me confiante. Embora houvesse uma Aline Graciele Rosa nos registros civis, no meu registro mental nasceu a “Aline Grael”, uma pessoa com delicadeza e força ao mesmo tempo. E então assim eu tornei me “Grael” é essa nova pessoa precisava reescrever-se, realizar-se e mudar-se de si mesma para um encontro com sua própria alma, sua Soul Grael. 

  Desde então a identidade frágil, vitimizada, conformista e inconstante passou a não mais estar confortável dentro de mim e vieram os conflitos internos. Por vezes eu escrevia sobre pensamentos aleatórios e sem sentido, por outras vezes escrevia sobre situações que me incomodavam ou apenas sobre termos analíticos. Mais constantemente minhas ideias caminhavam entre pensadores e filósofos conhecidos. Quem sabe esse novo nome deu-me coragem para sair da submissão e da não autoria. O que sei é que já não sou quem eu era, ainda naqueles dias, e menos sou quem fui no dia de ontem. Enfim, sou Grael. A partir de hoje pretendo ser quem nasci para ser. 

  E você sabe quem é você? Se não sabe, pergunte a um ser que habita aí dentro do seu corpo e então poderá descobrir. 

Soul Aline Grael

  Quando pensei em voltar a escrever publicamente relembrei o fato de tê-lo deixado de o fazer. A escrita acompanhou-me de forma tão natural...